Uma portuguesa, que vive desde sempre em Nova Iorque, propôs-me que dotasse a sua casa, em Lisboa, de um novo habitar. Analisei o passado do edifício, que tinha sido construído um século antes e ampliado, nos anos 50, com a construção dos dois últimos pisos. O apartamento pertence a esta última intervenção, sem as características que qualificaram a construção inicial de carácter palaciano.
O conceito que inicia o projecto devolve-nos esse carácter como forma de clarificar os princípios que deram origem ao edifício. O programa desta casa de 260m2 estava rigorosamente dividido: área social e área privada e dentro destas áreas as articulações entre os diferentes espaços não estabeleciam hierarquias. Salas duplicadas, sequências repetidas, programas desajustados e uma grande área no sótão, que ocupa 120m2 da cobertura da casa, sem uso.
A imagem dos pés direitos altos e daquelas salas amplas de portas rasgadas que caracterizam a primeira construção não deixou marcas neste apartamento, situado na máxima altimetria de uma das sete colinas da cidade, com vistas panorâmicas a norte e a sul.
A intervenção começa por libertar a área social e estabelecer continuidades no percurso. Desenha-se a ligação com o sótão. Um volume cúbico contém a escada de acesso e configura também a separação entre a chegada e as salas que se propõem. Este constitui o ponto de centralidade no espaço. A área privada mantém os 5 quartos existentes.
A escala da casa foi redefinida pela introdução de duas alturas no pé direito. Desenham-se aberturas nos tectos que contêm iluminação indirecta, centralizam os dois espaços das salas e acentuam a dinâmica do percurso no corredor. A imagem é a da leveza de uma folha de papel contrariando o peso dos tectos da casa (numa área de 260m2, um pé direito contínuo de 2,85 pareceu-me desajustado), além disso o tecto mais alto parece sempre revelar mais para lá do que é visível, pretende-se o céu...
Esta vontade de leveza está também no plano de parede que constrói a lareira. Pinta-se uma faixa de preto em negativo para criar suspensão, e transpõe-se o positivo em forma de um aparador preto com fundo branco para a parede oposta, que limita a outra sala. Assim como forma de estabelecer uma relação visual entre estes dois espaços, unificando-os.
Ao centro, o volume branco contem a escada de acesso ao sótão. Subimos entre paredes côr carmim até emergirmos à superfície com o sol a entrar pelos vários orifícios da cobertura. Este atelier de uma videasta é coberto por uma estrutura de asnas e tectos brancos. Como excepção, um volume carmim pelo exterior e branco no interior contém o lavabo.
Os materiais utilizados foram as madeiras e as pedras à imagem do existente: a madeira de riga para os pavimentos e escada, o contraplacado Wisa Red para revestimento interior da escada e exterior do lavabo e o contraplacado de bétula para construir os roupeiros, camas, mesa de jantar e cadeiras; a restante carpintaria foi lacada a branco. As instalações sanitárias revestem-se de liós, a pedra da região que construiu a cidade de Lisboa, à excepção da instalação sanitária social em mármore negro marquina, como o preto da lareira, o preto do aparador, do frigorífico, da placa do fogão e do forno, pontos de articulação visual entre os espaços sociais.
A salientar a cama do quarto principal construída em acrílico, um transparente absoluto, como uma nuvem, flutua...
O mobiliário foi desenhado ou escolhido à medida da arquitectura na sequência natural para o habitar.
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This project appeared on europaconcorsi home page slideshow dedicated to portuguese architecture, online from the 13th to the 20th march 2007. The series was realized in cooperation with Luis Afonso - Arx Portugal. We thank him for his help, kindness and professional advice.