Estação Biológica Do Garducho
(BIO) LÓGICA
O lugar é um monte em abandono, como muitos no Alentejo, implantado no remanso calmo do dorso da suave topografia que constrói a nossa imagem-comum desta paisagem.
O plano que se desenvolve além-Tejo distende-se serenamente, distorcendo-se a espaços raros para formar cursos de água ou pequenas serranias.
Mais do que além do Tejo, aqui estamos ainda para além do Guadiana, no último reduto do território conquistado para o mapa final do país, já encostado à linha de fronteira com Espanha. Onde se ouve castelhano no português que se fala.
As três construções do monte albergavam, aliás, residência, forno e posto de controlo fiscal sobre a fronteira. A posição dominante na cota elevada, ao lado do marco geodésico das Mentiras, e a vastidão transparente da planura, permitiam controlar extensas àreas aos contrabandistas.
A imensa estepe sobre a qual surgem, raros, pequenos sólidos brancos deitados na sombra escassa de insólitos e verticais eucaliptos, foi construída por via do uso agrícola extensivo, agora em progressivo abandono. Designam-se por pseudo-estepes, por oposição às siberianas verdadeiras, segundo parece.
O programa propõe construir no lugar do antigo posto fronteiriço uma Estação Biológica, espaço privilegiado de análise das pré-existências da fauna e da flora e das profundas transformações em curso.
As referências que surgiram incontornáveis no início do projecto, têm a ver com diversos exemplos da tradição arquitectónica mediterrânea, como a villa romana organizada em torno do impluvium (o submerso Castelo da Lousa, aqui ao lado), os frescos pátios àrabes com os sistemas de condução e armazenamento de àgua ou a estrutura e organização funcional do monte alentejano.
As contruções existentes configuram um terreiro central abrigado, através do qual se estabelecem os percursos de ligação funcional entre os diferentes programas.
O conjunto é recintado por um limite rectangular formando um pátio principal entre as três construções e três pátios de menor dimensão anexos a cada uma. Este rectângulo é desenhado a partir da construção de vigas paredes periféricas, elevadas do solo.
O programa da Estação Biológica do Garducho divide-se em três núcleos funcionais: alojamento, àrea pública e exposição e zona de trabalho, pelo que se tornou óbvio fazer corresponder cada um a uma das três construções, continuando a lógica da antiga estrutura.
O corpo maior, onde se inscreve a àrea expositiva e pública, descola do terreno e espreita a vista, impulsionado pela ondulação do relevo, abrigando debaixo uma extensa sombra, num alpendre voltado para o grande pátio.
Os sistemas construtivos retomam a tradição das sólidas paredes de taipa e adobe, mas substituem as matérias e técnicas primitivas por congéneres tecnologicamente avançadas e ambientalmente adequadas, como as alvenarias de grande inércia térmica produzidas a partir da planta de cânhamo que completam a estrutura em betão com inertes de reciclagem.
As extremas condições climáticas e o carácter demonstrativo e pedagógico do programa sugeriram o recurso a tecnologias sofisticadas de aproveitamento de energias renováveis e sistemas de transferências entre os vários edifícios controlados informaticamente