Jardim das Ondas
O “Jardim das Ondas” surge do diálogo entre duas disciplinas: arquitectura-paisagista e artes plásticas. Arquitecto e artista propuseram a criação de um espaço de lazer para os visitantes da EXPO'98. A sua execução é parte da transformação projectada na margem do Tejo, em Lisboa, para a Exposição Mundial de 1998.
Inspirando-se directamente nas formas resultantes do movimento das águas, foi concebido o projecto de um jardim de relva onde se modelasse o terreno estritamente, através de curvas de nível que emulassem o ritmo das ondas ao formar-se e ao rebentar. O projecto consiste na utilização do solo como matéria de deformação, e no seu recobrimento com relva como material de acabamento. A sua proximidade relativamente ao plano de água do rio, bem como a sua posição em relação ao movimento aparente do sol, possibilitam o seu uso como superfície praticável e disponibilizam um lugar de contemplação. Água, luz e vegetação tornam-se desta forma os materiais de sensorialidade perante o espaço aberto.
A superfície surge ondulada, escavada ou aterrada, de acordo com uma estratégia global definida a partir dos modelos. A sua conversão para o terreno é feita a partir de sistemáticos cortes rigorosos bi-dimensionais, e de trabalho mecânico de modelação de solo arenoso. No entanto a realidade demonstrou que apenas a direcção do trabalho no local pelos autores, e o recurso ao trabalho manual, levaram aos resultados que se perseguiam. A fotografia a partir de ângulos elevados ou aéreos, complementou a possibilidade de construção.
O revestimento foi feito com tapetes de relva pré-fabricados, cuja composição é preduminantemente de Festuca Ovina v. duryuscula conhecida pela sua tonalidade esmeralda e pela sua resistência ao pisoteio. A superfície é cortada a uma altura média de 5cm, sendo os planos inclinados mantidos sem cortes, produzindo uma textura diferenciada e intencional. Toda a superfície é regada a partir de um sistema fixo, invisivel e automático de forma a criar resistência ao material nos meses em que o clima mediterrânico de Lisboa tende a diminuir a sua vitalidade.
Pela dimensão da superfície próxima de um hectare, as suas formas são como vibrações, elevações ou mesmo grandes deformações do solo verde, que se apresentaam quase abstractas à percepção imediata. No entanto, a sua estrutura geral é perceptível quando nos afastamos no céu e a distância nos permite compreender aquilo que de próximo nos é incompreensível.
Silva, J. G. ; Fragateiro, F., 2000; “Jardim das Ondas” in Rosado, A.C. (Dir.); Co-Laborações; Lisboa; Parque Expo’98, SA
João Gomes da Silva (arquitectura paisagista) + Fernada Fragateiro (artista plástica)
Fotografia_ Bruno Portela